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Relato da expedição de Sir. Antonelio Ferrastia

Relato de Sir Antonielo Ferrasti


Ao nobre rei Otila Gonzzaga
Partimos do porto da cidade de Lacios, na província de Ranvor, ainda no entardecer. Os preparativos para a viajem foram atrasados mais pela falta de marinheiros corajosos que pelo embarque de viveres.
É de conhecimento de todos os habitantes do reino Molta e do continente de Agéia a finalidade de nossa expedição e muitos me consideram louco por haver proposto ao jovem rei tal empreitada.
Conseguindo não somente a permissão, mas dinheiro para a expedição e resolvi logo partir levando comigo o jovem senhor Gusmani Lanceno, nobre amigo e curioso explorador.
Foram necessários 3 meses para alcançar a borda da fenda conhecida como “Garganta de Ganis” e durante este tempo conseguimos mais mantimentos para a viajem e para a expedição no interior da borda.
Os três meses de navegação pelo Grande Oceano e aportando em algumas ilhas no arquipélago das Ilhas do Sul foi entediante, mas necessário a nossa sobrevivência.
Os nossos vigias sempre atentos não foram páreos para o primeiro desafio de nossa jornada. As brumas que saem do interior da fenda criam uma armadilha perfeita às embarcações que levam estas a colidir e naufragar pelos danos causados da colisão com a muralha submersa, que se estende por toda a borda da fenda.
Graças a grande habilidade de nosso timoneiro, as avarias severas que sofremos não foram ainda piores e não viemos a naufragar. O primeiro dia de nossa chegada seria de reparar o casco e planejar a expedição.
O cair da noite cria uma atmosfera ainda mais tensa entre os marinheiros que sente todo o receio em ancorar próximo do que chamam de “Fim do mundo”.
A expedição tem dois objetivos distintos. O primeiro é de mapear o interior da fenda e descobrir riquezas que possam ser usadas para o reino e a segunda e mais importante é a descoberta de passagens que liguem as duas bordas da fenda.
Histórias falam de navios que voavam por sobre a fenda e traziam riquezas imensas de outros continentes antigos, assim como o perigo deste novo mundo. Somente os mais corajosos entre os marinheiros conheciam o caminho e o segredo era guardado com a própria vida.

Primeiro dia da Expedição
Não foi surpresa ao acordar e ouvir os murmúrios e medos dos marinheiros. Todos estavam receosos sobre ancorar nesta região e dos perigos mitológicos que haviam ouvido em histórias que falam sobre a região.
Foi então decidido que a expedição seria dividida em duas, uma comandada por mim, Sir Antonielo Ferrasti e outra por Lanceno. Cada qual partiria em direção oposta e retornaria a embarcação em sete dias.
Após nos despedirmos rumei em direção norte. Caminhamos por todo o dia em trilhas escorregadias e chegamos a um platô rochoso que permitiu que meu grupo composto por nove corajosos marinheiros acampar.
Apesar de todo o cuidado tudo ficava molhado com a umidade local e logo no primeiro dia havíamos perdido todos os mantimentos. O audaz marinheiro Sergino arriscou-se em alimentar de plantas locais e alguns peixes que caiam pela borda da fenda e pudemos sobreviver durante o restante da jornada com o nossos novos alimentos.
O fogo foi outra dificuldade encontrada já que não havia lenha ou qualquer outro tipo de combustível que pudéssemos queimar. Os lampiões eram nossa única fonte de luz já que protegidos não se encharcaram de água como as tochas.

Segundo dia de Expedição
Catalogamos todos os animais e vegetais encontrados durante o primeiro dia e seguimos em frente. Foi mais um monótono dia de caminhada onde se podia ver a mesma paisagem rochosa, plantas fixadas aos paredões e alguns infelizes peixes que acabavam por ter o destino trágico no fundo da fenda.
O final do dia se mostrou recompensador quando chegamos a deslumbrar uma imensa cachoeira marinha. Um ponto onde a borda da fenda era mais profunda e permitia assim a água do mar mergulhar dentro da fenda.
Uma visão bela e assustadora. Pois fazia pensar na quantidade de água que caia em seu interior, visto o tamanho da cachoeira e o volume de água, mas também fazia pensar que quanto era profundo a fenda já que o mar não parecia encher seu interior.
Tivemos que descer alguns metros para conseguir passar por de trás da cachoeira. Uma passagem estreita e pequena, onde um homem normal poderia passar abaixado. Neste momento tive a certeza de ter feito a escolha certa em deixar várias das amostras que pegamos no platô rochoso que havíamos acampado na noite anterior.
Aqui seria um local de extrema dificuldade para passar com tantas coisas.
Caminhamos até o Sol se por e infelizmente não encontramos um platô como na noite anterior e fomos obrigados a dormir na trilha estreita que estávamos. A umidade e o frio foram nossos grandes inimigos.

Terceiro Dia de Expedição
Acordamos logo aos primeiros raios de sol e resolvemos partir rápido. A caminha que durou por mais de cinco horas ainda levava a uma paisagem monótona até encontramos algo que chamou a atenção de um de nossos marinheiros.
Cerca de 4 metros abaixo de nossa trilha, outra trilha parecia se formar, mas está era de uma regularidade espantosa e parecia ter sido feitas por mãos humanas. Usando nossas cordas descemos e tivemos acesso a esta nova trilha.
Com cerca de aproximadamente 1 metro de largura a pedra era completamente polida e apesar da vegetação crescer em alguns pontos estava intacta. A nossa velocidade de caminhada havia aumentado em muito e principalmente, conseguíamos ter uma visão ainda mais privilegiada da fenda.
A névoa que tomava a região vinha de fendas que surgiam do paredão mais a baixo e nestes locais a rocha se encontrava muito mais quente. Aparentemente gêiseres naturais expulsavam parte da água do mar que caia no interior da fenda.
Um belo lago foi criado naturalmente entre rochas mais a frente do paredão que canalizavam parte da água que caia de outra cachoeira marinha logo a cima. A água gelada do mar acertava o que os marinheiros batizaram de “dentes de Ganis” para uma piscina natural e que se estendia por longos seis metros adentro do paredão.
Lá se podia ver a água esquentar rapidamente e o vapor subir até ao teto e parte dele sair pelas laterais da caverna. Resolvemos experimentar a água e foi nosso maior e melhor erro. O calor da água mais distante do fundo da caverna era aconchegante e passamos três horas retirando o frio dos ossos.
A parte mais interior deste lago a água era tão quente que poderia cozinhar um homem em poucos minutos.
Continuamos nossa expedição e a trilha começou a descer ainda mais e chegou ao ponto que pude ver as fendas de vapor acima de nós. O calor do vapor era agradável, em relação ao frio das partes mais próximas do mar.
Agora era possível ter uma visão melhor da fenda com uma nuvem de vapor sob nossas cabeças. A luz bruxuleante que inundava a fenda mostrava sua grandiosidade, mas ainda guardava seus mistérios.
Uma área mais devassada foi escolhida para montar nosso acampamento e resolvemos parar antes do final da tarde.
Apesar das descobertas feitas, nenhum ouro, pedras preciosas ou qualquer objeto de valor foi encontrado. Tudo parecia ter sido um grande erro, pois apesar das maravilhas naturais únicas do local, nada mais era que uma fenda, apesar de misteriosa estrada que parecia se estender por toda a extensão em direção ao norte da fenda.

Quarto dia de Expedição
Os presságios malignos pareciam aparecer no horizonte quando um dos marinheiros havia desaparecido. Muitos alegariam que havia rolado para a borda e caído no precipício que se encontrava sempre ao nosso lado, mas ele havia dormido rente ao paredão e havia dois outros marinheiros entre ele e o precipício.
Nada havia sido removido de seu lugar e nada faltava a não ser o marinheiro.
Um medo sobrenatural percorreu a alma de todos e mesmo tomados por um extinto de sobrevivência que nos gritava para fugir seguimos em frente, mais ao fundo da fenda.
A longa caminhada de descida foi então surpreendida pela descoberta de uma escada. Agora mais do que nunca se sabia da existência de algo inteligente vivendo neste interior, apesar de ser uma escada antiga.
A trilha terminava em uma entrada que mais se assemelhava a uma tumba que uma caverna e o receio aumentaram em nossos corações. A visão de uma entrada escura e desconhecida chocava a todos e o primeiro passo que dei em direção a escuridão erguendo meu lampião foi o passo mais corajoso dado em minha vida.
O som da fenda, da água que caia e do mar ao fundo foi deixado para trás e o silêncio tomou conta de tudo a nossa volta. Era o que parecia uma mistura de caverna com um antigo salão, como se inacabado. Nada havia em seu espaçoso interior e a caverna então se afunilava como um pequeno corredor adentrando na rocha.
O caminho tortuoso e sombrio continuou por longas horas até podermos avistar novamente a luz. Pela posição do Sol, parecia ser por volta do meio do dia e estar abaixo da névoa de vapor permitiu ver um imenso vale, que alcançava profundidades ainda maiores. Na sacada de pedra que parecia flutuar no ar, pudemos ver as primeiras árvores.
Pequenas e retorcidas, as árvores se grudavam as rochas do paredão com suas raízes poderosas e robustas e uma leve folhagem verde aparecia nos galhos que mais se assemelhavam a garras que buscavam alcançar o céu.
A água que carregávamos conosco estava a escassear quando encontramos uma pequena fonte de água doce que corria para o interior da fenda, formando um vale de pequeno verde das árvores retorcidas.
Coletamos tudo o que conseguíamos e enchemos nossas barrigas e cabaças. Pequenos insetos e criaturas estranhas foram vistas e algumas aves marinhas que se aventuravam ainda mais fundo no vale.
Vistoriamos a região em torno da entrada da caverna e resolvemos acampar em seu interior.

Quinto dia de expedição
Fui acordado durante a noite, um pouco antes do amanhecer, por um dos marinheiros que estava com a arma em punho. Ele pedia para fazer silêncio e apontava para a trilha a fora.
O som que vinha de lá era de algo caminhando sobre as pedras, na trilha e a sombra que lançava sobre a entrada mostrava ser algo grande e andava ereto como um homem. Seria este o primeiro contato com aqueles que construíram a trilha e parcialmente a caverna?
O medo do desconhecido é forte e parece saltar sobre a mente. Pacifico ou não, nós não iriamos desarmados.
Todos estavam imóveis, a respiração quase não podia ser ouvida e o silêncio era mortal. O tatear das mãos da criatura sobre a parede de entrada da caverna criou um sentimento de apreensão e as mãos apertaram mais fortemente o punho das facas e das espadas que carregávamos.
Por longos minutos de espera ficamos tomados pela imobilidade do medo.
Então mais que subitamente a criatura se afastou. Talvez temesse o que pudesse encontrar no interior da caverna, levada por um instinto animal ou capacidade de prever o perigo que poderia se encontrar.
Quando a sombra se foi e pode ser ouvido o correr na trilha, despertamos de nosso medo e nos dirigimos para o exterior da caverna. A trilha seguia mais a frente e se perdia de vista ao circundar o paredão e passar em diversos locais por dentro da rocha até aparecer muito mais a frente.
Apesar da distancia se podia ver um vulto, algo vagamente humanoide e com o que pareciam ser grandes cabelos esvoaçados que partiam por toda às costas, seguir a frente rapidamente.
O medo deu lugar à curiosidade.
Arrumamos o mais rápido possível nossas coisas e partimos pela trilha a seu encalço. Apesar de estarmos mais leves por deixar grande parte de nossos equipamentos na caverna, ainda assim não eramos velozes o suficiente para alcançar a criatura.
Corremos até alcançar o que seria um novo platô e pudemos testemunhar a maior das descobertas de nosso tempo. Um obelisco com 1,5 metros de altura aproximadamente se equilibrava na beirada do precipício e mais a baixo se podia ver estruturas, edificações do que teria sido uma grande cidade no passado.
Ordenei que metade dos homens retornasse a caverna e pegasse nossos equipamentos deixados lá e passei o dia todo a copiar no meu diário os símbolos desenhados no obelisco.
Acampamos neste platô e deixamos dois vigias a noite. Revezávamo-nos em turno de 3 horas até o dia raiar com receio de sermos atacados durante a noite pela criatura que “encontramos” durante o dia.

Sexto dia de expedição
De cima podíamos ver a imensa cidade, contudo nosso tempo era escasso e não poderíamos fazer exploração do local. Partimos rapidamente para o navio.
Em nossa presa em chegar o local, tivemos um acidente quando um dos marinheiros escorregou e caiu dentro do precipício. Uma lamentável perda, pois era um bom homem.
Havíamos marcado o local e esperávamos voltar com mais pessoas e ancorar mais próximo deste local e assim continuar com a exploração desta cidade engolida por Ganis.
Foi todo o dia de caminhada árdua e antes do termino do dia já havia quase retornado ao navio. Talvez pela proximidade da embarcação e o término da viajem, nós abaixamos a guarda e dormimos tranquilamente.
Foi durante a noite que eu fui acordado com um grito. A criatura havia nos seguido e estava sobre um dos marinheiros, mas este havia sido o segundo atacado. O anterior estava debatendo-se no chão como se possuído e podiam-se ver pequenos tentáculos saindo de sua boca e nariz.
Algo entrava em seu corpo, deslizando por sua garganta. A criatura que atacava o segundo marinheiro era o nosso companheiro desaparecido. Sua aparecia era de um homem, mas seus olhos estavam avermelhados, como se tivesse sido ferido e de suas costas vários pequenos tentáculos saiam formando uma leve e vasta cabeleira que ia até a base.
Estes tentáculos oscilavam levemente de um lado a outro como se empurrados por ondas do mar. Da base do peito um tentáculo maior saia e entrava na boca do marinheiro que estava sendo atacado.
As mãos do marinheiro possuído pela estranha criatura impediam que a vítima fechasse a boca, quando uma parte do tentáculo se despendeu em um som leve de algo partindo e deslizou para o interior de sua vitima.
Agora o segundo marinheiro estava se debatendo como o anterior. Os demais marinheiros do grupo já estavam erguidos e armados. A criatura ficou a nos fitar com os olhos frios do marinheiro possuído, estudando o grupo e mantendo a defesa de seus novos “amigos”. O primeiro marinheiro atacado afora não mais se debatia e parecia se erguer como um boneco. A coordenação de seus atos eram artificiais e lentos.
Os olhos pouco a pouco foram ficando repletos de pequenas fibras vermelhas, como pequenos ferimentos e o sangue que escorria da boca ferida dava um aspecto ainda mais assustador.
O impasse estava feito, até que um dos marinheiros investiu contra a criatura “mãe”. A espada perfurou o ombro da criatura, mas está não esboçou qualquer sentimento de dor e com um golpe forte, lançou seu agressor no abismo, mesmo tendo quebrado seu braço com a força do impacto.
Os demais investiram e um deles lançou um dos lampiões que tínhamos sobre a criatura. O óleo rapidamente se incendiou sobre o ser e neste momento os tentáculos se recolheram. O corpo estremeceu e partiu e de seu interior saiu algo muito semelhante a um anêmona-do-mar.
Alguns dos tentáculos queimados e uma parte de seu corpo ferido pela saída abrupta do hospedeiro, a anêmona-do-mar rastejava pelo chão. O primeiro marinheiro que havia sido atacado tentava movimentar-se para proteger sua “mãe”, mas havia não ter completo controle sobre o corpo de seu hospedeiro.
Os demais marinheiros atacaram a criatura e a fatiaram em golpes de espada. Ordenei que prendessem os dois marinheiros atacados e os levássemos para a embarcação. Usamos de golpes para conseguir a colaboração para caminharem, mas foi o fogo que foi eficiente no convencimento.

Sétimo dia de expedição
Mal havíamos dormido durante a madrugada e estávamos agora caminhando para a embarcação. Nossos dois prisioneiros estávamos nos atrasando e tive que fazer o que pretendia lá mesmo na trilha.
Estava claro que era uma nova espécie, uma espécie de parasita marinho, extremamente perigoso, talvez até responsável pela derrocada da civilização das ruinas que havia testemunhado.
Durante este tempo de caminhada pude acompanhar de perto a mudança lenta dos marinheiros infectados com a criatura, com o aparecimento dos tentáculos em suas costas e que surgiam na base da cabeça e desciam por toda a coluna.
Amarrados pode-se ver que a criatura em seu interior os digeria lentamente enquanto se via tentáculos maiores a escavar o corpo em busca de mais nutrientes.
Resolvemos sacrificar um dos marinheiros e pude ver a criatura em seu estágio “infantil” onde uma fez fixada próximo ao coração passa a se alimentar do hospedeiro e lança fibras que alcançam o cérebro e o controle dos movimentos do corpo.
Quando existe o completo aparecimento do tentáculo na base da coluna, a criatura já tem controle completo do corpo do hospedeiro. Incapaz de sentir dor a criatura chega a forçar os membros até que se quebrem caso seja necessário.
Usa o corpo para “ver” e “ouvir” ao seu redor e na base do peito rompe com um tentáculo reprodutor para infectar outra vítima.
A melhor forma de matar tal criatura é um golpe na altura do coração, quando afeta e a imobiliza, mas para destruir seguramente é necessário fazer uso do fogo.
Resolvo destruir o outro marinheiro infectado antes de chegar à embarcação. Com o estágio avançado posso ver tentáculos saindo do topo do crânio e a criatura parece querer falar. Olha-nos fixamente e chego a temer com a possibilidade de tal fato.
Será que poderia falar ou comunicar-se. Ouso abusar da minha própria sorte e não destruo a criatura. O dia está chegando ao final e estamos próximos do ponto de encontro com a embarcação.
Mas para a nossa surpresa a embarcação já não se encontra lá. Um sentimento de desolação se abate sobre nós e a visão da criatura a nos olhar fixamente só aumenta uma tensão e uma impotência de estarmos presos na fenda.
Escolho prosseguir e fazer o caminho feito por Sir. Lanceno, na esperança de encontra-los ou quem sabe descobrir o que ocorreu com está expedição.
Vamos dormir e sempre temos um de vigia contra a criatura. Ela não aprece esboçar qualquer tentativa de fuga ou agressividade, ficando somente a nos observar.

Oitavo dia de expedição
Acordamos logo cedo e caminhamos por algumas horas para testemunhar duas grandes cachoeiras marinhas seguidas uma após a outra. Um espetáculo de beleza sem igual.
Na trilha nas pedras pudemos localizar o que seriam restos de um antigo acampamento e pegadas que seguiam mais a frente. Está então mais a frente se dividia em duas, uma seguindo mais ao alto, quase berrando a entrada da fenda e outra seguindo cerca de 12 metros mais abaixo. Decidimos seguir por cima e caminhamos durante horas até alcançar o que seria o outro acampamento de Sir. Lanceno.
Neste acampamento encontramos vários objetos do grupo e o que seria marcas de luta. Tememos pelo pior. O nosso prisioneiro passou a emitir um som e temendo por nossas vidas resolvemos matar a criatura, quando está falou pela primeira vez.
Um som gutural sai de sua garganta e um arrepio tomou conta de todos, assim como o assombro em estar não agindo com um parasita marinho, mas com uma criatura maligna e traiçoeira.
Ela afirmou que o que havíamos supondo era verdade e que a outra expedição estava perdida. Seus “irmãos” haviam tomado posse do corpo de todos e sequestrado o navio a duas noites atrás, por isso não havíamos encontrado a embarcação.
O mover lento e rítmico dos tentáculos era quase hipnótico e somente a raiva nos mantendo longe dos reinos da loucura e do desespero.
Talvez tomado pelo ego ou talvez tivesse visto em nós o terror que a situação nos acometia, a criatura falou sobre si e sobre tudo mais. Como se o próprio terror que nos causava com suas declarações alimenta-se seu gosto pela vitória.
Dizia fazer parte de um mais, algo como se fosse uma consciência coletiva, onde já nascem sabendo de seu passado e são capazes de com um toque passar suas memórias para os seus pares.
Haviam vivido por séculos nos escombros da cidade e parasitaram sobreviventes até não mais existir nenhum. Foi então que tempos depois tiveram contato com alguns humanos que sobreviveram aos naufrágios.
Estes tinham memórias e um novo mundo poderia ser conhecido e conquistado, mas centenas de quilômetros de mar os separavam de seu intento e que era necessária uma embarcação que os levasse para terra.
Não haviam sido eles a criar as lendas sobre o local, nem sobre os tesouros que existem nele, mas eles se aproveitariam destas lendas para alcançar o continente e novamente buscar novos hospedeiros.
Apesar de tomado pelo terror da verdade não pude deixar de notar que nosso inimigo não estava bem por assim dizer. Seu corpo rapidamente se deteriorava e os músculos eram mais que pequenos pedaços de carne e pele e ossos apareciam dando um aspecto cadavérico horrível ao hospedeiro.
Quando indaguei sobre sua situação ele afirmara que conseguiria um novo hospedeiro. Neste instante, tentáculos saíram de suas mãos e vieram em minha direção, se prendendo em meus braços.
Pensei como poderia aqueles tentáculos ser tão fortes e ainda assim com um aspecto gelatinoso e grudento. Os marinheiros se precipitaram sobre a criatura com espadas em punho, em minha defesa, quando outros marinheiros infectados surgiram do penhasco.
Eles estavam na trilha logo abaixo e subiam atraídos pelo som da conversa ou talvez pelo chamado no nosso marinheiro infectado. Eramos quatro contra seis marinheiros infectados incluindo o nosso.
Não esperamos as criaturas escalarem o paredão e lançamos três deles no precipício e eu após pegar minha faca e cortar os tentáculos que tentava me prender fui de encontro ao meu algoz e esfaqueei bem no coração.
As demais criaturas haviam subido no platô e um combate acirrado ocorria. Apesar de termos um homem a mais as criaturas eram fortes e não sentiam qualquer dor.
Um dos marinheiros teve o braço quebrado e estava a ponto de ser infectado quando lancei um dos lampiões ao seu lado. O calor da explosão queimou seu braço, mas assustou a criatura que por um segundo desgrudou do marinheiro. Tempo suficiente para que este chutasse com toda a força a criatura que caiu no penhasco.
Investi com outro marinheiro sobre a criatura e esfaqueamos seguidamente na altura do coração morrendo.
A outra criatura fazia um combate de força com nosso companheiro e quando percebeu ter sido o último, tentou escapar pulando para a trilha de baixo. Infelizmente para ele, Alexis era um hábil laçador e o pegou em pleno pulo e o manteve preso no penhasco.
Incapaz de escapar ficou imóvel e então explodiu o corpo, deslizando como uma geleia para a trilha inferior e seguindo rastejando lentamente para o sul, apesar de nossas tentativas de alveja-lo com pedras e outros objetos.
A noite vinha chegando e agora era o momento de cuidar do braço de Freires e buscar um novo plano.
Entre os infectados estavam somente os marinheiros que partiram com Sir. Lanceno e não ele, o que nos levava a deduzir que ou ele estava no comando da embarcação ou estaria ainda mais a frente na trilha.
Resolvemos seguir pela noite adentro na esperança de encontrar a embarcação.

Nono dia de expedição
Como havíamos pensado. A embarcação estava ancorada mais a frente, possivelmente a espera dos outros infectados. De longe era possível ver Sir. Laceno aprisionado com outros marinheiros e outros três marinheiros infectados no controle da embarcação.
O estado destes infectados não era tão avançado apesar de já terem grandes tentáculos saindo da cabeça.
Resolvemos tomar o barco e fiquei eu e Freires na trilha para chamar a atenção dos infectados e obriga-los a sair e os outros dois entrariam escalando a embarcação por trás.
Depois de ter se passado meia-hora que os haviam saído, gritei em plenos pulmões e logo fui descoberto por um dos infectados que rapidamente pulou da embarcação vindo ao meu encontro.
Extremamente ágil e rápido ele correu pela trilha e quando chegou próximo para pular em minha direção, o marinheiro Freires o acertará com uma pedra amarrada em uma corda bem na cabeça. A pancada foi forte o suficiente para que o tirasse da trilha e joga-lo para fora, caindo no precipício.
Os outros dois ao verem o ocorrido vieram em nossa direção saindo da embarcação, quando meus companheiros entraram. Um a das criaturas tentou ataca-los, mas foi presa com um arpão que atravessou o seu peito e o imobilizou instantaneamente.
A outra criatura permaneceu acuada e buscou fugir, mas estávamos a sua espera e lançamos o último de nossos lampiões e vimos a besta queimar.
Embebidos em nossa própria vitória não percebemos que a criatura que acreditávamos ter lançado no abismo com a pedrada de Freires havia escalado mais a frente com incrível velocidade e entrado novamente no navio.
Nós estávamos a lançar velas e partir para o continente, quando a criatura se apossou de Sir. Lanceno e entrou em seu corpo com incrível rapidez. A criatura literalmente se vestia de seus hospedeiros e rapidamente os dominava.
Quando Sir. Lanceno de debatia em dor, o sangue escorria pela sua boca, logo em seguida se podia ver tentáculos erguerem-se de sua cabeça, como uma fina cabeleira avermelhada. Já não havia mais o meu amigo.
A criatura era rápida e mortal matado dois outros tripulantes quando investiram contra ele.
A luta prosseguiu e com a morte do timoneiro o barco perdeu o controle sendo levado pelas águas e a nossa embarcação navegava próxima a garganta quando subitamente foi direcionada para a cachoeira marinha.
Gritamos em nosso desespero, mas o próprio barulho das águas sendo tragadas pela fenda abafava o som de nossas vozes. O navio como se parado no tempo deslizava lentamente para o interior da fenda e se podia ver o rosto de desespero dos marinheiros que estavam a frente da embarcação, encarrando seu destino.
Pude ver de relance o que acreditava ser Sir Lanceno pular da embarcação e fiz o mesmo. Nadando contra a correnteza e com muito esforço cheguei a margem.

Nos dias que se seguiram um jogo de gato e rato decidiu a minha vida, onde por fim a criatura consumiu Sir. Lanceno e garantiu assim minha vitória.
Nas últimas semanas que me mantive no paredão tive a oportunidade de ver os navios “sobrevoarem” a garganta onde alguns pontos são ligados por verdadeiros corredores de pedra onde a embarcação é capaz de navegar a um ponto ao outro da fenda.
Tendo conseguido com alguns destes comerciantes bem aventurados e negociando com os Tritões Imperiais que vivem aqui o retorno a cidade de Lacios de onde escreve está carta relatando as agruras da expedição.

Do seu fiel servo. Sir. Antonielo Ferrasti

Verbetes que fazem referência

Garganta de Ganis

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